quinta-feira, 10 de julho de 2008

Refúgio dos alucinadores

Olhou no relógio. Viu que faltava exatamente 23 minutos. Não se desesperava porque estava muito próximo de seu destino.

Era assim a vida de João. Este que era brasileiro, se dizia ser ao menos. Se interessava por futebol, mulheres cerveja. Um cidadão comum. Porém aos olhos de muitos era um rapaz muito organizado e reservado.

Como todo bom brasileiro, ia aos botecos no meio da noite. Se enchia da loirinha e voltava pra casa aos soluços na madrugada. Esse era João.

João gostava de caminhar. Não tinha escolha porque carro é luxo de poucos, menos em São Paulo que vive lotada de carros. Comia o bom prato feito durante o almoço e o bom zoião na janta.

Enfim era um rapaz comum da classe comum do Brasil. Era solitário por vezes, era muito bem acompanhado por outras. Era o que fosse, mas nunca deixou de ser João.

Ao meio dia, a 23 minutos de seu compromisso, João se viu em uma situação irreal. Nunca viu algo como aquilo. Uma luz tão intensa quanto o sol pousou sobre sua testa e se apagou.

Uma coisa como aquela deveria ser vista por todos a sua volta, mas João percebeu que ninguém vira o acontecimento. Então João, perplexo, ignorou e seguiu com seu caminhar. Ao olhar novamente ao relógio, viu que faltava agora para seu compromisso exatamente 45 minutos. Fato que jamais poderia entender.

- Como raios isso aconteceu? Meu relógio quebrou?

Todo o tipo de pensamento encheu sua mente. Seus olhos fitaram o céu por um longo tempo quando de repente um flash passou por seus olhos e tudo estava mais claro.

Ele viu alienígenas. Sim! Ele viu alienígenas, daqueles cabeçudos com grande olhos e corpos magros e pequenos. Imaginou todo o tipo de coisa, e o jogaram um dia depois do fato, com um pequeno erro em seu relógio.

Houve uma cirurgia. Sim, houve uma cirurgia. Ele mau conseguia ver os cirurgiões, via tudo embaçado, com uma luz intensa em seus olhos. Via grandes cabeças, ouvia sons ininteligíveis e sons de metais batendo. O tilintar do medo que se escorreu por sua espinha.

Naquele dia, esperou os 45 minutos e a pessoa quem esperava não chegou, cumprindo os fatos que passavam por sua cabeça. Ele ligou para a pessoa. Era uma mulher, com a voz suave e elegante. Era Joana, uma moça da pacata cidade de Nova Hamburgo, chegara em São Paulo a pouco.
- Joana, por que você não veio? (perguntava João, disfarçando o acontecimento)
- Como assim? Combinamos nos ver amanhã! Você está tão desesperado para me ver assim?

João não mais soltou uma palavra. Largou o telefone. Perplexo com a situação, não sabia a quem pedir ajuda. Correu pela porta de casa, pulou feito louco. Berrava aos céus “porque eu”.

De repente em sua direção vinha a luz novamente, desta vez milhões de vezes maior e muito mais forte. João fechou os olhos e quando as reabriu...

... ele estava em sua cama. Mais uma noite sem aqueles remédios.
- Quanto tempo mais? Quanto tempo mais?

João se perguntava porque já não queria mais ser igual a todo mundo na Terra.

1 comentário:

Vitor Rebello disse...

...o jeito é fingir que não smos daqui.

mais um bom texto!

abraaaço.