segunda-feira, 14 de julho de 2008

2º Desafio: Tanabata Matsuri (Yuki)

Contradição de uma festa (pt1)


Era uma época complicada na história do mundo quando estes jovens se conheceram.

Ayumi era uma menina tímida. Com os trabalhos mais tensos da lavoura, arrumava tempo para se dedicar a estudos que fazia praticamente sozinha, em casa. Tinha nascido já no Brasil. Sua mãe veio ainda criança no primeiro navio, o Kasato Maru, em 1908. Ayumi nasceu 17 anos depois do primeiro navio da imigração. Agora com vinte anos, vivia a pressão da família para se casar.

Haruo era um trabalhador de primeira. Nunca deixou a lavoura sofrer qualquer falta. Sempre se dedicou em ajudar sua família. Seu pai estava muito fraco, sofria de tuberculose. Com aquela idade seria difícil sobreviver. Mas o fazia para o sofrimento dos filhos. Os pais de Haruo veio no primeiro navio também, se casaram pouco depois de chegar. Haruo nasceu 13 anos depois do casamento e era o terceiro filho do matrimônio.

Era o sétimo dia do sétimo mês do ano em que Ayumi e Haruo se encontraram pela primeira vez. Viviam no mesmo estado, em fazendas bem próximas. Naquele ano as festas entre os imigrantes nipônicos eram bem tensos. O Japão passava pela guerra, para os japoneses aqui no Brasil, o Japão seria um país vitorioso cheio de glória. Por conta disso, a pressão era grande, mas não impedia o Tanabata Matsuri completo. Ou melhor, o mais próximo possível do completo. Os imigrantes tinham dificuldades de fazer uma boa festa, faltava dinheiro para fazer algo realmente parecido com o que viveram no Japão.

Contudo, aquele Tanabata Matsuri vivia um momento especial. Foi a paixão a primeira vista entre Ayumi e Haruo. Eles jamais poderiam se sentir diferentes. A forma como viveram, como sofreram e como cresceram tornavam ambos feitos um para o outro. O brilho no olhar porém, era a única prova do sentimento que ali nascia. E foi embaixo de uma das 8 bolas de papel que simbolizava as estrelas do céu. Era a estrela branca. Estava encardida por causa da poeira do solo brasileiro, mas naquele momento, aquela esfera de papel brilhava mais que qualquer estrela poderia brilhar.

No dia seguinte ao momento que só se manteve por uma troca de olhares e rápidas palavras, Ayumi acorda em sua casa. Lembrava com carinho daquele momento no dia anterior. Haruo não conseguiria fazer diferente. Sua mente só lembrava de Ayumi.

Com essa lembrança ambos não poderiam fazer diferente. Se encontraram uma vez depois na cidade para compra de alguns produtos. A partir deste dia se encontravam sempre. Passaram quase um ano assim. Quase sempre juntos. As responsabilidades de ambos já não eram mais com o campo. As famílias já pensavam num casamento.

Em abril do ano seguinte, em 1945, houve a notícia que mudou tudo. O imperador japonês anunciava já em junho que o Japão perdeu a guerra. Aquilo abalou os japoneses no Brasil. Algumas famílias compreenderam, outras não. Não aceitava que o país glorioso como o Japão perdera a guerra.

A sociedade se dividiu. Os japoneses daqui que não acreditavam na derrota do Japão, os Kachigumi’s chegaram a perseguir os que acreditaram, os Makegumi’s. Infleizmente a família de Ayumi era Kachigumi. Seu pai chegou a ameaçar a mãe de Haruo.

Para o sofrimento do casal, a guerra que antes assolava o mundo se resumiu em assolar o pequeno número de imigrantes que ali viviam. Para o sofrimento de Haruo e Ayumi, eles tiveram de se separar. A família de Haruo fugiu, indo para um lugar muito mais distante. Fez isso para o bem de sua família. Tinha que proteger a todos, já que nenhum de seus irmãos se dispuseram a liderar a família e proteger a todos. Não podiam contar com seu pai, que um dia foi vivo.

O brilho dos olhos de Ayumi se fora, e nunca as recuperou desde então.

Sem comentários: