sábado, 28 de junho de 2008

Sobre a nova caverna

Dizia que era maluco. Diziam que ele era incompreendido. De tanto, não era pra menos. Ele era um mendigo, jogado à sarjeta, pedindo compreensão de um mundo que não sabia que via.

Foi assim para o Escolhido, como se auto proclamava. Vivia a caminho de um lugar que desconhecia, mas que fazia questão de saber que conhecia. Uma porque, saber torna o que se quer saber em uma verdade.

Por tanto tempo caminhou, andou sobre rua, asfalto, calçada, terra, grama; andou debaixo de chuva, de sol, do céu estrelado / nublado; andou descalço, calçado, a pé, arrastado. Assim o fez por anos a fio, sem querer que algo em sua vida realmente mudasse.

Não! Não era medo. Nem coragem. Não era opção. Era falta de opção. Suas certezas em saber que o mundo onde vivia não era um lugar para si o tornou firme e forte em sua própria luta. Era o que diziam quem podia entender a razão de sua luta em se manter em seu lugar.

Essa era a vida do Escolhido. Por anos a fio a caminho de uma realidade que pudesse aceitar.

Um dia como outro qualquer, a procura do que manter seu estômago como seu amigo, não empunhalando-o com a dor do vazio, ele, relutante ao cheiro azedo que exalava aquele pão de um dia que foi rotina de alguém, revirava os sacos pretos espalhados pelas calçadas de uma cidade cinzenta.

A luz se fez na frente do escolhido quando a pálida face se congelara ao fitá-lo. Era um engravatado. Um inimigo ao qual este flagelo cinzento sempre temeu, e que fugiu até atingir aquele escuro lugar chamado solidão.

Este austero senhor de gravata com listras vermelho e azul estendia a mão em direção do caído homem, deitado sobre os sacos fétidos. O Escolhido distribuía tremidas e palmadas naquela mão limpa. Dizia que não. Que não sairia daquele lugar, por mais difícil que fosse se manter naquele absurdo. Então a resposta foi um simples “não se estrague neste imundo beco quando seu conhecimento, por mais belo e único, pode ser guardado num livro de capa de couro. Não se jogue num lugar tão escuro onde pessoas que não olhariam para você olharão com desgosto e pena”

E assim foi o caminho ao que se pode chamar um dia de....

...

...é melhor que fique ao acaso do futuro.

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