sexta-feira, 20 de março de 2009

Vestindo do Mel a camisa


Ela tossia que parecia que não aguentaria mais um tranco, - maldita gripe! - reclama Carol, minha garota. Retruquei que era mais que necessário tomar mel. Não apenas o mel, mas o mel que vinha com própolis e eucalipto ou guaco pra dar um jeito na tosse.

- Propolis especialmente é um santo remédio que não falta em casa.

No dia seguinte, fomos ao mercado municipal procurar algumas sacas de café, pois minha garota defendia seu trabalho de conclusão de curso naquela semana sobre uma campanha pra uma marca de café.

Comprei um pequeno frasco de mel, e ao chegar em casa, fiz questão de colocar o mel numa colher e dar na boquinha, bem em frente a sua mãe pra fazer a tão conhecida "média" com a sogra.

Dali em diante me tornei o maior defensor de mel em qualquer problema de saúde.

Súbito hoje, fui pego de surpresa. Até me lembrei de "De volta para o futuro" quando Mcfly nos tempos áureos de sessão da tarde, deixava uma discussão pra trás e era chamado de "franguinho" pelo Biff. Pronto. Mcfly parava de costas e logo se imaginava que esta, ele não levaria pra casa.

Me senti assim hoje. Correndo para poder chegar a tempo em casa e partir para meus exercícios vespertinos, saí do banco com a grana de mamãe e uma voz me parou rumo a minha moto.

- Moço! Quero te fazer uma promoção. - Me viro e vejo um jovem com porte de caipira mais estilizado, ali na porta do banco quase na sua campanha de marketing cheio de vidros de Mel.

Continuou ele: - Quero te vendê o mel num preço bão! Um por vinte e dois por trinta!

Minha cabeça foi a milhão: - Poxa...até queria te ajudar, estou só com o dinheiro do meu aluguel.

Mentira, pois aluguel eu ainda não pago. Eu não queria dar a desfeita que todos dão, afinal, aquele ali era o herói do mel, o alimento que tanto defendo e poderia ali estar traindo a minha fidelidade!

- Cara, só tô com a grana do aluguel, é sério, eu te desejo boas vendas e....

Me interrompe com mais uma promoção: Uma por quinze ou duas por vinte e cinco!

- Meu Deus! Pensei...quanto foi que minha mãe pagou naquele vidro que acabou mesmo? 

Ao me distanciar do vendedor, quase montando na minha moto, ele joga o lance final:

- Doze reais e a garrafa é sua!

Ainda desconcertado, dei minha tréplica: - Cara, tô de moto, não tem como levar este vidro imenso!

- Eu te coloco em duas sacolas e minha oferta final por dez reais o vidro!

Pronto! Sabia que doze não era a final. Eu fui enganado. 
Meio dormente na lógica, observei que minha mão tomou vida própria e sacou uma nota de dez reais.

Meu corpo. tantas vezes curado pelo mel, tomou vida própria, me deixou letárgico mentalmente e adquiriu o produto. Eu não acreditei no que vi. 
Automaticamente, minha mente me ludibriou, e trouxe a tona, memórias de quando criança, mamãe fazia leite quente com o mel pra dormir bem a noite. Lembrei-me da minha avó fazendo mel com limão pra dormir bem quando passava temporadas de férias na casa dela. Avançando o tempo, vi Carol derramando o mel nas frutas e dizendo: - Eu também gosto de mel!
Por último, a imagem da mesma Carol tossindo quando estiver em casa numa provável gripe! 
O terror pairou em mim quando lembrei que o mel que tinha em casa acabou.
E assim meu corpo me convenceu e me deixei levar.
O mel era meu.
Quando parei pra notar adiante, logo depois destas divagações, o vidro estava pendurado por duas sacolas no meu braço.
Quase traí o Mel. Talvez, se tivesse deixando o vendedor caipira estilizado, herói do mel falando sozinho, jamais poderia olhar pra um pote de mel sem sentir culpa.

Mas isso foi por pouco.

E que venham as irritações de garganta. Minha e de minha garota!




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